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Publicado em 03/08/2018

03/08/2018 - Outros

Curitibano Paulo Biscaia Filho estreia filme sanguinolento gravado nos EUA

Em Curso de Verão, clássico cômico oitentista de Carl Reiner, consta uma dupla, vivida por Dean Cameron e Gary Riley, que é entusiasta do cinema de horror B, com fetiche absoluto em O Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper. A vida dos dois é pautada, estética e existencialmente, pelo cinema feito a machadadas e sanguinolência. A devoção destes icônicos personagens encontra ressonância três décadas depois em Virgens Acorrentadas, produção americana dirigida pelo cineasta e dramaturgo curitibano Paulo Biscaia Filho, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (9).

Quem conhece a obra de Paulo Biscaia Filho, tanto no cinema quanto no teatro, a esta altura já deve estar acostumado com uma certa afetação, muito marcada na direção de atores. Ou, como ele mesmo define, “eu gosto de uma atuação bem canastra”. Virgens Acorrentadas tem muito pouco disso. “Para que a brincadeira de metalinguagem funcionasse, não poderia ter uma interpretação hiper afetada, então a opção foi trabalhar com naturalismo para que a brincadeira funcionasse”. Ainda assim, está lá o personagem Mike Beale (Don Daro), um cineasta gore que serve de inspiração para Shane, mas que revela uma certa perversão. O universo que ele introduz ao filme é progressivamente mais canastrão.

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A consciência de que Virgens Acorrentadas é um filme, em vários sentidos, de outra pessoa, já que não é um roteiro seu, fez com que Biscaia tratasse o projeto como uma encomenda. Ele se viu como um diretor contratado para executar um serviço. Há espaço, porém, para uma série de decisões autorais. “Foi uma coisa que eu fiz, que não estava no roteiro, que é uma bobagenzinha. Quando o Shane fala o primeiro ‘corta’, ele olha para a Cloe, naquele momento, no meio da bagunça, como quem diz ‘estamos fazendo um filme’. Isso é muito gostoso. Eu sei como realizador, brasileiro ainda, que é muito difícil, como aqueles personagens sabem que é muito difícil”.

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Este cuidado que parece descuido se reflete na fotografia e nos enquadramentos. Há uma estética de primeiro filme, de balanço de acertos e erros, que precisa ficar evidente para manter no ar o jogo narrativo. “Tem um momento que me lembro claramente. A primeira cena. Eu pedi para o foquista para ele fugir do foco. Ele ficou me olhando, meio sem entender, e disse ‘like I suck?’ [‘como se eu fosse péssimo?’]. E eu disse: ‘exatamente! É isso mesmo que a gente quer’”, diz, gargalhando.

A decisão atende à necessidade de manter a fruição do espectador, mas também funciona como homenagem e referência. “Boa parte da filmografia de horror independente, mesmo a obra prima que é O Massacre da Serra Elétrica, tem amadorismos enormes, técnicos e narrativos. A distância do tempo é que transformou aquele filme em uma obra prima”, avalia o diretor. Amadorismo técnico, ressalva, “porque a consciência do que estava acontecendo ali era plena”.

Todas essas escolhas revelam a originalidade do olhar de Biscaia. “Odeio quando usam a ‘meta-meta’ para pedir desculpa pelo próprio filme. Eu não peço desculpas. Tudo o que é ruim é ruim. Tudo o que é bom é bom”. Francis 'Chainsaw' Gremp e Dave Frazier, os personagens de Cameron e Riley em Curso de Verão, não poderiam estar mais orgulhosos de um filme.