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Publicado em 22/03/2019

22/03/2019 - Outros

Dancin’ Days: Peça recria loucura e alegria da era da discoteca

O ano era 1976. O jornalista e produtor Nelson Motta tinha quebrado a cara ao produzir o Festival de Saquarema – espécie de Woodstock tropical – que naufragou em amadorismo e no momento de repressão política no país.

Eis que surge a oportunidade de ocupar um amplo imóvel sem uso no recém-criado Shopping da Gávea (uma das novidades da época). Ao lado de um grupo de sócios que mais pareciam o elenco de um filme, Djalma Limongi, Leo Netto, Scarlet Moon e em especial o seu amigo de infância Dj Pepe.

Motta que sempre foi uma das antenas da transformações estéticas do país, fundou com os sócios o Frenetic Dancin’ Days, a casa que inaugurou a era da discoteca no Brasil e marcou época na história da boêmia brasileira.

A vertiginosa história da boate fundamental da disco music brasileira virou uma peça que será levada ao Festival de Curitiba nos dias 2 e 4 de abril ( veja detalhes abaixo). O espetáculo foi escrito por um dos protagonistas da história real, Nelson Motta, ao lado de Patrícia Andrade e é dirigido por Debora Colker.

“Quando comecei a escrever vi que estava ficando muito chato. Parecia um Globo Repórter sobre aquela cena. E ninguém vai ao teatro ter aulas de história.  Não conseguia colocar fantasia na história real que vivi, mas a ajuda da Patrícia me ajudou a destravar. Colocamos personagens novos, histórias de amor”, disse Motta.

Um dos destaque da peça é, claro, a trilha sonora que mistura as grandes musicas nacionais e internacionais da era da discoteca. Do Chic a Lady a Zu.

Ouça cinco músicas para entender a era disco brasileira:

Lady Zu – A Noite Vai Chegar

As Frenéticas – Dancing Days

Tim Maia  – A Fim de Voltar

Banda Black Rio – Maria Fumaça

Dudu França – Grilo na Cuca

Nelson Motta conta como a boate Dancin’ Days se tornou uma ilha de liberdade – cujo lema era sexo, drogas e disco music – em meio a um período violento da ditadura militar brasileira. Para ele, a peça está replicando a vocação da casa.

“O clima era pesado. Você sempre achava que havia um carro te perseguindo. Os amigos desapareciam. Aí você entrava na boate e caia na gandaia, resistindo àquilo”, disse.

“Hoje em dia o espetáculo tem a mesma função, talvez até mais. Você sai da rua onde o clima está tenso, as pessoas brigando por causa de política e vê uma grande festa. 90 minutos de alto astral”, conclui.

Motta conta que foi pessoalmente aos Estados Unidos respirar a o ar noturno das discotèques para recriá-lo à brasileira no Dancing Days.“Eu tinha uma prima que morava em Nova Iorque, e quando comecei a ver coisas em revistas sobre música disco e me ofereceram negócio,  fui para lá. Passei três dias sem dormir, fui na Infinity (boate novaioprquina), comprei discos, bola de espelho e o diabo”, lembra.

Aqui no Brasil, a estética da discoteca ganhou no gosto de todas as classes sociais e foi logo apropriada com o que havia da cultura nacional como  a tradição das gafieiras.

Menos boardway, mais chanchada

O texto de Nelson e a direção de Colker também fugiram do padrão Broadway que domina a produção recente de musicais brasileiros e se aproxima mais das velhas chanchadas brasileiras e do teatro de revista.

Segundo Nelson, a montagem saiu do “padrão de grande musical, fica só o filé mignon”. “A linguagem narrativa e corporal e o espeito da montagem mais próximo das escolas de samba e da chanchada com esquetes de humor e grande música. Devemos isso ao talento da Débora”.