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Publicado em 17/04/2019
Com bailarinos sujos de lama, “Cão Sem Plumas” de Deborah Colker volta ao Guaíra
Numa conversa por telefone, Deborah Colker repetiu insistentes vezes a palavra “espesso”. Diz ela que foi João Cabral de Melo Neto quem teria a ensinado o seu significado, justamente com o poema “Cão Sem Plumas”, publicado nos anos 1950, que leva nome do espetáculo que chega ao teatro Guaíra pela segunda vez, no sábado (20). Os ingressos custam R$ 75 (inteira) e R$ 37,50 (meia Clube Gazeta do Povo). Só restam entradas para o segundo balcão.
“É um poema atemporal, parece que foi escrito “amanhã”. É universal, não fala só sobre o Capibaribe, fala de todos os rios e de pessoas que vivem à margem”, diz. A viscosidade dos mangues aparece em todos os detalhes: nos bailarinos enlameados, nas projeções cinematográficas, na coreografia e na música.
É a segunda vez que a montagem de 2017 vem para a capital paranaense, agora, segundo Deborah, muito mais madura depois da temporada internacional. “É um espetáculo sobre aquilo que é inadmissível. É um grito silencioso e delicado”, diz.
Depois de uma pesquisa árdua, esse trabalho foi o primeiro que levou Deborah e toda companhia a uma residência. “A gente passou dois anos estudando o poema, lendo, falando com professores catedráticos em João Cabral… Mas conhecer aquelas pessoas, sentir a terra craquelada e seca fez tudo mudar”, falou. Eles estavam com o espetáculo quase todo pronto, mas a viagem fez mudar cerca de 70% da produção.
Segundo ela, foi possível sentir tudo na pele junto à chuva que não vem. “É orgânico e espesso”. Foi lá que o ciclo criativo foi finalizado e que se construiu o “homem-caranguejo” e o “caranguejo-homem”.
Foram três semanas em cinco cidades que margeiam o rio pernambucano, dando oficina de danças às comunidades e conhecendo os elementos da cultura local.
No palco
Os bailarinos lembram caranguejos: tronco curvado, braços tortos e se movimentam formando um corpo só. A coreografia tem influências regionalistas, com fortes batidas dos pés e também estrangeiras, com o africano kuduro. Tem manguebeat, com a trilha sonora de Jorge du Peixe, vocalista do Nação Zumbi, com participação do Lirinha.
"O poema é triste, cru, árido, cruel e o espetáculo mantém este tom segundo Deborah. “Não tinha como fugir disso, esse espetáculo é um soco no estômago e eu sei disso. Mas também mostra a força e a exuberância desta aridez, desta crueldade e dessa crueza. Esse espetáculo constrói um guerreiro: que luta, teimoso, e que segue a vida”. As projeções mostram o guerreiro, os bailarinos pequenos no palco são gigantes na tela.
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